Hoje ocorreu o encontro com o Sr. Aires Colaço, tratador
dos ursos-pardos. Foi um encontro muito enriquecedor com informações muito
pertinentes que partilhamos convosco aqui no Blogue do Zoo.
Quantos ursos-pardos existem no JZ?
São
oito os ursos-pardos existentes no Jardim Zoológico. Dentro destes oito ursos
temos uma fêmea com duas crias que nem sempre estão na instalação exterior.
Porque razão as crias não estão
constantemente na instalação exterior com os restantes ursos?
Inicialmente
as crias eram colocadas na instalação exterior apenas com a mãe. Hoje já se
encontram em grupo com as restantes fêmeas e daqui a cerca de dois meses,
quando forem maiores são juntas com os machos. Isto acontece por uma questão de
segurança das crias. A progenitora dá à luz dentro da instalação isolada dos
restantes membros do grupo e as crias só vêm para o exterior com quatro meses.
Estas quando nascem estão cobertas de sangue, como todas as crias de mamíferos.
O cheiro a sangue é atrativo para os restantes ursos e poderia levar a que
estes as atacassem. O grupo dos machos é o último a ser junto porque as crias
ainda são pequenas. Porém quando daqui a dois meses estiverem maiores já se
podem todos reunir sem problema.
Qual o tempo de gestação?
As
fêmeas iniciam o cio em abril/maio. Têm um período de gestação de nove meses e
depois dão à luz em janeiro/fevereiro.
Qual é o trabalho do tratador?
O
trabalho do tratador não se prende apenas com problemáticas a nível de alimentação, veterinária e limpeza. O tratador tem que estar em constante observação a
anomalias que possam ocorrer nas instalações. No caso dos ursos, o tratador tem
que cuidar para que árvores do exterior da instalação não cresçam com pernadas
para dentro da instalação, o que poderia ser um ponto de fuga para tão exímios
trepadores. Também têm que estar com atenção a buracos que estes possam
executar, os ursos são animais com muita força e podem abrir buracos em lugares
muito duros. Para além disso é importante verificar o bom estado de conservação
do que está dentro das instalações, nomeadamente o estado dos vidros que
ladeiam a instalação.
Como é que o tratador limpa a instalação?
Para
que o tratador possa proceder à limpeza da instalação os animais têm que ser
retirados de dentro da mesma para a instalação interior. Após esse processo o
tratador tem todo o tempo para limpar a instalação.
Como se leva os animais para a instalação
interior?
Com
recurso à alimentação. Os ursos são animais omnívoros, isto é, comem um pouco
de tudo. Os tratadores atraem os animais com comida que estes não comam com
muita frequência como pêssegos ou maçãs. Funciona como uma pequena guloseima.
Como são levados a cabo os procedimentos
veterinários?
Há
duas formas de administrar a medicação dos ursos. Pode ser através da ingestão
de medicação ou através da injeção da mesma. Se forem comprimidos têm de ser
colocados dentro de ¼ de maçã e de seguida é dado ao animal que vai engolir sem
sentir o sabor do comprimido. Este procedimento não pode acontecer com uma maçã
inteira porque aí o urso iria morder, sentiria o sabor do comprimido e acabaria
por rejeitar a medicação.
Em
relação à medicação injetável, poderia acontecer com anestesia porém anestesias
constantes não seriam saudáveis para o animal. Daí que se utilizem zarabatanas
com o medicamento e se faça a injeção à distância.
Que tipo de Enriquecimento Ambiental se faz
na instalação dos ursos?
O
enriquecimento ambiental é um conjunto de objetos e/ou
técnicas aplicados a uma instalação, com o objetivo de levar o animal a executar
comportamentos naturais, isto é, comportamentos que este teria no seu estado
selvagem.
No
enriquecimento alimentar, colocamos papas e frutos dentro de buracos de toros
pendurados para que o animal fique durante algum tempo ocupado à procura da
comida. Também lhes damos fruta dentro de blocos de gelo para que estes tenham
que morder ou lamber o gelo. Estes processos fazem com que os animais demorem
algum tempo a alcançar a comida, tempo que também iriam demorar na natureza a
caçar.
No
enriquecimento sensorial colocamos vários cheiros estranhos aos ursos, dentro das
instalações, por exemplo, especiarias. Estes cheiros novos vão levar a que o
animal sinta necessidade de marcar o território de forma a que o seu cheiro
prevaleça sobre o cheiro intruso. Outro exemplo de enriquecimento sensorial é a
cascata existente na instalação. Trata-se de um enriquecimento a nível auditivo
devido ao som da água em cascata. A água dessa cascata movimenta-se em circuito
fechado, isto é, não há desperdício de água pois é sempre a mesma água que cai
da cascata. É bombeada para a parte superior e volta à cascata. Com este
movimento consegue criar-se um ambiente mais fresco e a água é oxigenada. A massa de água que compõe a cascata é
também um enriquecimento a nível visual.