Uma vida dedicada aos gorilas

Esta quinta-feira, dia 16 de Janeiro, celebrou-se o 82º aniversário do nascimento de Dian Fossey, uma das mais conceituadas primatólogas do mundo. Estudou os gorilas ao longo de quase 20 anos, desde 1966, e revelou ao mundo muitos aspectos desconhecidos do seu comportamento. Proteger estes animais, que a cativaram tanto pela sua individualidade como pela sua timidez, acabou por lhe custar a vida. Foi encontrada morta a 27 de Dezembro de 1985 na cabana onde vivia no Ruanda. 
Embora gostasse de animais desde criança e até tivesse pensado seguir uma formação em medicina veterinária, foi a viagem que fez a África em 1963 que mudou para sempre a sua vida. Entre as visitas que tinha planeado naquele continente incluiu uma visita ao Monte Mikeno, nas Montanhas Virunga (Ruanda), onde o zoólogo americano George Schaller tinha realizado um estudo pioneiro sobre gorilas, e à Garganta de Olduvai, na Tanzânia, um local de elevado valor arqueológico e paleontológico.
Foi nesta região da Tanzânia que Dian Fossey conheceu Mary e Louis Leakey, arqueólogos na Garganta de Olduvai desde os anos de 1930. Louis Leakey foi o antropólogo queniano responsável pela descoberta dos primeiros achados de Homo habilis, em 1964, comprovando a sua teoria de que a origem do homem estaria em África e não na Ásia como inicialmente se pensava.
Louis Leakey partilhou com Dian Fossey a sua convicção de que a investigação com os grandes primatas beneficiaria o estudo da evolução humana. Apresentou-lhe o trabalho de Jane Goodall com os chimpanzés, na altura ainda no início, mas que se veio a revelar tão importante como o de Dian Fossey com os gorilas ou o de Biruté Galdikas com os orangotangos, alguns anos mais tarde.
Foi também Leakey que desafiou Dian Fossey a fazer o estudo de longa duração com gorilas que se iniciou em 1966. O objectivo era estudar os gorilas-das-montanhas que viviam nas Montanhas Virunga, uma cordilheira composta por oito vulcões localizada entre a República Democrática do Congo (antigo Zaire) e o Ruanda, países com um relevante historial de conflitos armados e caçadores furtivos.
Com o tempo, a primatóloga aprendeu a seguir as pistas deixadas pelos gorilas. Começou por observá-los à distância, porque eles fugiam sempre que ela se aproximava. Utilizando as técnicas que George Schaller sugeria, graças à investigação que tinha desenvolvido, foi compreendendo os comportamentos e ganhando a confiança dos gorilas. As fotografias da National Geographic mostrando Dian Fossey entre os gorilas tornaram-na conhecida e mostraram uma desconhecida faceta dócil deste animal.
À medida que aprofundava os estudos sobre estes primatas, cada vez se preocupava mais com a ameaça que os caçadores furtivos e os agricultores constituíam para esta espécie. Enquanto se sentia cada vez mais aceite entre os grupos de gorilas, era cada vez mais indesejada junto das populações humanas.
Formou e equipou, com o seu dinheiro, uma equipa de guardas para garantir a segurança dos gorilas-das-montanhas, destruiu inúmeras armadilhas, mas a sua luta intensificou-se depois da morte de Digit um gorila macho de cinco anos com quem tinha estabelecido um laço especial. Nessa altura criou o Fundo Digit (agora Dian Fossey Gorilla Fund International) e lançou campanhas de conservação, alertando a população mundial para o que acontecia naquela região do globo.

Morreu assassinada no final de 1985 mas o seu legado ficou: a investigação realizada, o fundo para a conservação dos gorilas com o seu nome, o livro que escreveu – “Gorilas na bruma” – publicado em 1983 e o filme com o mesmo nome que estreou em 1988. Jaz, nas Montanhas Virunga, ao lado do seu amigo Digit.



"Quando nos apercebemos do valor da vida, preocupamo-nos menos com o que é passado e concentramo-nos mais em preservar o futuro." Foi a última anotação encontrada no seu diário...