Esta é a primeira parte da
entrevista ao Educador do Jardim Zoológico, Miguel
Lajas , que passou cerca de um mês na Reserva Nacional do
Niassa, em África, a desenvolver alguns projetos. A segunda parte da entrevista
será aqui publicada ainda durante esta semana.
Miguel, queres explicar-nos onde foi a tua viagem?
Reserva Nacional do Niassa |
Olá a todos os leitores do
Blogue! Voltei recentemente de Moçambique, mais precisamente da Reserva
Nacional do Niassa. Esta Reserva é a
maior área de Conservação de Moçambique e uma das maiores do Mundo, com uma
dimensão de 42,000km2 (maior que alguns países, como a Holanda).
Para além disto concentra a maior densidade de fauna selvagem em Moçambique num
típico ecossistema de savana e é considerada zona “Stronghold” para os leões
africanos, ou seja, é uma das poucas zonas onde a espécie tem maiores
probabilidades de sobreviver por possuir uma população de mais de 1000 leões.
Qual foi o objetivo da tua viagem até à reserva do Niassa?
Como finalista do Mestrado
Integrado em Medicina Veterinária, tinha de escolher um local para o meu
Estágio Curricular. Quando surgiu a oportunidade de fazer este estágio na
Reserva, com o Niassa Lion Project, não pensei duas vezes e comecei a
tratar de tudo. O principal objectivo foi sempre aprender ao máximo com este
Projecto de Conservação in-situ, e com todas as pessoas que o constroem
diariamente. Durante o período do estágio fomos também colhendo
amostras de excrementos de leões, assim como amostras de sangue de leões e de
leopardos para depois poder analisar em Lisboa e obter os dados para a minha
Dissertação de Mestrado em Doenças Infecciosas e Parasitárias destes animais.
Que tarefas desempenhaste durante a tua estadia?
Manutenção das câmaras-armadilha |
Durante a estadia na Reserva a
rotina normal incluía acordar por volta das 4h da manhã (com o nascer do Sol) e
preparar tudo para sair do acampamento o quanto antes de modo a evitar as horas
em que o Sol está mais forte. A maior parte dos dias acompanhei o Euzébio e o Samuel, no seu trabalho de manutenção das câmaras-armadilha que estão
estrategicamente colocadas, com o objectivo de obter
fotografias dos animais que ali passam, pois são acionadas sempre que
detectam movimento. O nosso trabalho era retirar os
cartões de memória para descarregar todas as fotos para o computador e ainda trocar as pilhas das câmaras. É uma forma de ter a
noção do número de animais e de espécies que podem passar num só local. Quase
como abrir uma janela para o Niassa e ver o que se passa na nossa ausência.
Para além disso, nestas
deslocações era frequente subirmos algumas montanhas de modo a poder localizar
os leões que tinham coleiras-rádio através da antena que emitia sons cada vez
mais fortes quanto mais perto nos encontrávamos dos leões.
Em determinadas alturas era comum abandonar o carro para podermos seguir a pé com o objectivo de encontrar os
excrementos dos leões que eu depois iria analisar no local e em Portugal.
Localização de Leões |
Para além destas tarefas, a minha
estadia coincidiu com a realização dos Lion Fun Days na aldeia de Mbamba. Desta
forma, enquanto Educador do Jardim Zoológico, acabei por participar na
organização dos Lion Fun Days criando máscaras, desenhos e estórias, sempre com
o propósito de passar mensagens importantes relacionadas com a Conservação.